Adrenalina
Um corpo vivendo… Aparelhos. Silêncio.Frio.
Uma vida que não fazia barulho, nao aglomerava multidões, nem servia de exemplo, apenas o ritmado pulsar artificial, olhos fechados, pulso fraco. Comida? Tanto faz. Roupas? Tanto faz. Tudo, tanto faz!
Mas um dia, alguém apareceu, piscou, surgiu. E trocou o remédio, aquele dia que começou como todos os outros, dia ordinário, cheio de nada e repleto de incerteza, alguém esteve lá.
No soro da realidade insossa injetaram adrenalina e num susto aquele corpo pulou, olhos abriram, coração bateu, rápido, rápido e cada vez mais rápido, tão forte que sentia-se no ouvido, então sentiu falta de ar e sentou na cama. Arrancou tubo, agulhas, tudo e pensou “Estou viva!”. Olhou pernas e mãos, olhou em volta, saltitou até o espelho, sorriu e sussurou “Estou viva!”. Olhou a seu corpo, ajeitou o cabelo e sorriu…Era como se em muitos anos não houvesse um menor fio de esperança , pensava repetidamente “Estou viva!!!!!!” Como se isto fosse proibido.
O inesperado trouxe de volta quem ela realmente era.
O problema é que coisas assim são momentaneas, uma gota no chão árido, a água que não sacia, precisava saber quem esteve ali. Correu pra cama, olhou o soro, leu as anotações…Pensou em fugir, abraçar a chance incerta e ir, mas não. Tinha que ter isto como permanente. Voltou ao espelho e sorriu, prendeu os cabelos, passou batom…Abriu a janela e sentiu o vento… Respirou como se fosse levar o ar de lembrança…Aquela euforia era ela, aquela graciosidade, aquele sangue quente, aqueles desejos.
Estava viva, sentia o medo, sentia a alegria, sentia a necessidade, viu uma seringa no chão perto da cama, líquido amarelo, segurou-a contra o peito como se a abraçasse, percebeu uma pegada, pés adrenalisticos, mãos que acenderam a vida, tocou a pegada como forma de agradecimento e pretendia segui-la com todo amor de seu ser, até que ouviu um barulho…
Pulou pra cama e deitou-se como costumeiramente, hora da visita. Ouviu a mesma voz de todos os dias, sorrindo com outras pessoas que conversavam, sentaram-se naquele quarto, completamente a vontade, falavam de muitas coisas, e nem perceberam nada… Ela queria gritar “ESTOU VIVA!”, queria rir do susto que levariam, queria pular e sair correndo com a bunda de fora naquele corredor, pois sentia a vida pulsar em si mesma. Queria encontrar as mãos que simplesmente apareceram. Até que alguém olhou pra ela e disse : “Está sem o tubo ?”, “Não acredito!” – Rapidamente introduziram a respiração artificial ,colocaram novamente o soro e a visita pode alisar aquele corpo inerte e se sentir seguro.
Ao final ele olhou bem pra ela e comentou : Algo está diferente?!- Todos pararam. Dizia do cabelo, do rubor na face, do batom? (Ela ainda resistia em manter a consciencia). Respondeu alguém “Deve ser a janela que está aberta!”
“Sim, com certeza é a janela”.
E volta a vida a mesma rotina agonizante
Maio 27, 2010 às 1:02 am
E continuo na cama até quando?
Maio 27, 2010 às 2:22 am
Até hoje ! Acho! rsrsrsrsr